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            Que homem foi Flávio Luce?

            Dirão todos os que com ele conviveram: Uma pessoa inesquecível, um homem simples, que nunca perdeu a humildade, um homem alegre, sempre sorridente, um otimista incansável na perseguição de seus sonhos, uma pessoa compreensível, justa, honesta, conciliadora, um homem empático, doce, acolhedor, solidário, apoiador - um  amigão. Um homem do presente, mas radicalmente voltado para o futuro, comprometido com sua profissão e com o processo de humanização de nossa sociedade.

            Dificilmente uma pessoa reuniria tantas qualidades, conjunto que nos permite dizer que sua presença entre nós, dificilmente poderá ser esquecida. Na verdade, Flávio vive.

 

            QUEM FOI FLÁVIO LUCE ,  UM GUERREIRO DA PAZ?

 

            Costuma se usar a expressão “guerreiro” para qualificar homens líderes que vivem na luta, figuras destemidas que enfrentam, com coragem e determinação, os desafios que se impõem a eles em suas idéias, e, as situações de ameaça aos coletivos ou aos grupos sociais a que pertencem.

            Em imagens que acompanharam o desenvolvimento histórico da humanidade esse tipo de sujeito era retratado pela figura de um homem forte, vigoroso e altivo, expressando posição de chefia ou comando, portando instrumentos ou dispositivos de ataque e defesa, em cenários de guerras ou batalhas. Em muitas delas os demais personagens indicavam posturas de obediência ou respeito a essa figura.        

            Mas, a humanidade, no seu processo evolutivo, conheceu ou produziu outros tipos de guerreiros, sobretudo no que se refere aos recursos que utilizam para travar seus embates, voltados para alcançar seus objetivos, sempre comprometidos com mudanças positivas para a sociedade. E quando se fala em embates nos referimos a disputas que se estabelecem em relação a qualquer situação que, na dinâmica social, se ocupa de dificuldades persistentes e de difícil superação, ou seja, das opções e caminhos que se discutem para transformação dessas realidades.

            Nessa perspectiva, não é no espaço da guerra, com o uso da força das armas de ataque, que surgem os novos guerreiros. São homens de ampla visão de mudança que, atuando com suas capacidades de convencimento e mobilização, com grande perseverança, integridade e humildade, sem impor qualquer autoridade, influenciam pessoas para engajarem-se na defesa dessas grandes questões, que se expressam como situações problemas na dimensão dos planos societários que elas abrangem.

            Entre eles, como exemplo, no plano mundial, podemos citar Mahatma Gandhi, o líder do Movimento pela Independência da Índia, incansável na luta contra o apartheide e fundador do moderno Estado indiano, o maior defensor do Satyagraha (o princípio da não agressão, forma não violenta de protesto) como um meio de revolução;  Nelson Rolihlahla Mandela um advogado, líder rebelde e presidente da África do Sul, que foi considerado como o mais importante líder da África Negra e, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993 e, Martin Lutther King  um pastor protestante e ativista político estadunidense que se tornou um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo.

            No plano nacional, não podemos ignorar o trabalho de Herbert José de Sousa.- o Betinho, sociólogo e ativista dos direitos humanos, que concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida;  Zilda Arns Neumann, a médica pediatra e sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança que dedicou seu trabalho a defesa das crianças, e, Flavio Antônio Luce, C. Dentista, Professor, Sanitarista que se dedicou a tornar realidade, na pratica da saúde bucal, a prevenção da cárie dentária, mediante o emprego da fluoretação das águas de abastecimento público.

             São essas personagens, pelo que fizeram e pela forma com que lutaram, os chamados “guerreiros da paz”. Sem qualquer sombra de dúvida Flávio Luce foi um deles.

 

            QUEM FOI FLÁVIO LUCE, UM PROFESSOR EDUCADOR?

           

            Para ser professor o homem, para além de sua capacidade pedagógica e dos conhecimentos referentes a suas áreas de especialidades profissionais precisa ser uma pessoa portadora de qualidades e atributos que são essenciais a relação e as trocas humanas que o ato de ensinar/aprender exigem.

            Assim é necessário que entre os partícipes desse processo, entre outros, se criem laços de empatia, de respeito, de consideração, de afeto, de humildade, de solidariedade, de compreensão, de apoio, de honestidade e de confiança em seus respectivos papéis situacionais de aluno e professor.

            De outra parte esse professor precisa desenvolver um profundo conhecimento da sociedade e da realidade social em que vive e da qual participa, agregando a sua leitura técnica, estudos e vivencias que o ajudem a compreendê-la, para que seus conteúdos não se despreguem dessa realidade e caiam no espaço da cultura inútil ou do cientificismo.

            Infelizmente, nem todos, mesmo entre bons professores, se tornam educadores. As qualidades de um educador, para além das que já referimos para um homem ser professor, exigem um profundo compromisso que devem assumir em relação a possibilidade de ajudar seus alunos a desenvolverem atitudes e habilidades de, em suas condições de cidadãos profissionais, também, poderem  se tornar cidadãos de compromisso, consigo e para com a sociedade em que vivem. Ou seja, cidadãos profissionais conscientes e capacitados para interpretar e compreender a realidade em seus fragmentos e, principalmente, em sua totalidade, capacitados a fugir da pseudo neutralidade que os aliena, que os impede de tornarem-se, com outros sujeitos construtores de seus destinos, protagonistas do acontecer histórico, que nunca está e poderá ser a priori determinado, porque em permanente construção.

            Não há neutralidade na educação, ou o professor trabalha na perspectiva que acima foi exposta ou torna-se um agente a serviço do tecnicismo puro, do compromisso aparentemente descompromissado, porque mesmo nessa condição é ideologicamente definido e, mesmo insistindo nele ao dispensar conhecimentos de humanidades, de valores morais, éticos, econômicos, sociais, políticos e filosóficos ele está apontando para seus alunos a inutilidade desses temas em suas formações e na compreensão de seus papéis profissionais.

            Nesse sentido, o professor educador (que poderíamos chamar de mestre), como refere o educador Moacir Gadotti, em sua obra “Educação e poder - Introdução á Pedagogia do Conflito”:

                                                                     “ ...um mestre é sempre um autor. Ele é mestre                                                                                                                        não porque sabe dizer bem alguma coisa,          

                                                    repetir alguma coisa, mas porque o que ele                                                                                                                             transmite é o que ele tem de “original” a dizer,                                                                                 

                               um conteúdo. Ele é mestre pelo seu conteúdo.”

 

            Flavio Luce, por ter tido sempre, em sua prática docente, a preocupação com a formação de seus alunos em uma perspectiva de torná-los profissionais cidadãos, por apresentar idéias sempre originais, e por se preocupar mais com seus conteúdos e, menos pela forma de dizê-los, que o tivemos sempre como o nosso mestre. Por isso, com orgulho, podemos dizer que tivemos conosco um legítimo “professor educador”

 

            QUEM FOI FLÁVIO LUCE, UM EXEMPLO?

            Quando em nossos escritos empregamos a expressão “por exemplo”, e na sequência apresentamos fatos, nomes e situações, recorremos a uma forma de melhor esclarecer ou complementar uma idéia anteriormente referida, afim, também, de lhe dar mais força ou  lhe conferir maior clareza.

            Aqui, ao falar de Flávio como um exemplo, abreviamos o “por exemplo”, na medida que o complemento que se obteria para reforçar essa afirmativa torna-se desnecessário, já  que foi garantido ou alcançado pelo que dele já se disse.

            Todavia, para sermos mais explicativos, talvez coubesse, ainda, acrescentar à pergunta, após “um exemplo” os interrogativos para quem, para o quê, e por meio de que?

            De todas essas possibilidades poderíamos ser diretos em uma resposta as duas primeiras. Flavio Luce foi e continua sendo, pelo seu legado de homem, guerreiro da paz e professor educador, uma referência para todos que em seus caminhares pretendem nele se espelhar, reconhecendo seus atributos e suas estratégias para auxiliar nos desafios que se renovam e se requalificam no processo histórico de construção da sociedade.

            Quanto a terceira pergunta “por que meio ou de que forma” responderíamos: não meramente pela aquiescência ao que ele foi ou pela intenção de sê-lo, mas pelo gestos concretos que se possa desenvolver ao agir, ao engajar-se, ao protagonizar, junto com outros, em formas de lutas que se não estão dadas, precisam ser construídas por nós que ainda estamos em caminhada e por aqueles que nelas entrarão, dando continuidade à histórica caminhada humana, como fez Flávio.

            É o que tentamos, em tua homenagem fazer, Flavio.

            Entre essas realizações podemos citar como exemplo, as providências que foram tomadas para dar vida ao recém recriado Departamento de Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Odontologia, que estava desativado e, as medidas utilizadas em apoio a constituição do Instituto Flávio Luce - um espaço em que livre, autônoma e democraticamente possam todos realizar estudos, reflexões críticas, debates e formulações, para dar voz e ação política a um agir profissional radicalmente comprometido com os direitos de cidadania no campo da saúde, em particular da saúde bucal, como tu propugnavas.

            A constituição do Instituto que leva teu nome já conta com o referendo das entidades de representação de nossa categoria, assim como tem recebido manifestação de apoio de parte de entidades de ensino e prestação de serviços de nossa área profissional, bem como de colegas que atuam no campo da saúde bucal coletiva. A criação do Instituto conta, também com a manifestação de aprovação dada por um significativo número de Colegas que por ocasião do último CORIG, manifestaram-se em relação a essa iniciativa.

            Desta forma nossa singela dedicatória desse livro à Flávio, serviu como instrumento de ação para medidas de luta que já estão em curso, como acreditamos, tu gostarias de ver.

            Neste sentido é que Flávio Antônio Luce é um exemplo. Uma alma, no sentido do poema que apresentamos ao início desta obra, para não ser esquecida.

            Por favor, agrega essas providências às homenagens que te fazemos. Como podes ver, Flávio, seja lá o lugar para que te retirastes, continuamos juntos em nossos propósitos de lutar pelos princípios que defendestes.

            

            Por tudo isso, caro amigo, nossas saudades.

[1]  Este texto é um excerto do livro” O processo de fluoretação das águas de abastecimento Público no Rio Grande do Sul. Responsabilidade de quem? Cortes & recortes. Uma história em permanente construção contada por caminhantes.” Dedicado ao Prof, Flávio Antônio Luce, hoje, Patrono do Instituto que leva seu nome.

NOSSO PATRONO- FLÁVIO LUCE – QUEM É?

 

           

       FLÁVIO ANTÔNIO LUCE: UM HOMEM, UM GUERREIRO DA PAZ, UM PROFESSOR EDUCADOR, UM EXEMPLO. [1]

            QUEM FOI FLÁVIO LUCE, UM HOMEM ?

Flávio Luce todos sabem, foi um C. Dentista e um professor de odontologia, mas como referia Paulo Freire:

(O Profissional) “antes de ser profissional é homem”.

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