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A REALIDADE E SEUS DESAFIOS - NOSSA FORMAÇÃO E RESPONSABILIDADES

 

            Não há ação sem consciência da realidade concreta em que se pretende intervir.

 

             Só a capacidade de interpretar o mundo, não apenas de descrevê-lo, é capaz de nos colocar criticamente em relação a ele, nos percebemos nele, tanto no que nos oferece em termos de possibilidades e impossibilidades de realização coletiva, quanto pessoal.

 

            É a convicção de que podemos modificá-lo, como o processo histórico dá conta de comprovar isso, que  nos assegura que nada é definitivo, tudo esta sendo e que nos estimula a desvelá-lo e compreender sua lógica de seu desenvolvimento.

 

            É essa operação que aponta e permite conhecer seus problemas que, na verdade expressam os nossos desafios. Mas, tal capacidade dos homens não é biologicamente herdada. A adquirimos, de forma bruta, no próprio enfrentamento do viver com suas adversidades e contradições.

 

            Em função disso, para além de nossas formas de percepção sensitivas, conformadas por nossas heranças de formação cultural decorrentes de nossas origens familiares, de classe, morais, éticas, religiosas é preciso qualificá-la, mediante processos de aprendizagem baseados e fundamentados em métodos teóricos científicos, que nos assegurem que – o que consigamos compreeender dessa investigação, não seja dissimulado ou distorcido – de uma parte pelas verdades da ciência, sempre perspectiveis e, de outra, pela ideologia em suas formas de estrutura e função que, nesses aspectos, se apresenta a nós como preceitos incontestáveis e sob formas diferenciadas de mecanismos de representação da verdade nos planos econômicos, políticos e sociais de nossas sociedades.

 

            Portanto a militância (ação para a transformação) prescinde para quem, com seriedade, pretende exercê-la um esforço especifico de formação teórica, cujas bases nosso ensino tradicional, com seu viés tecnicista, não só descurou como, em certa medida excluiu, falhando em seu desejável papel de formação do profissional cidadão, de que nos fala o educador Paulo Freire.

 

            Repousa nessa medida o papel que o Instituto se propõem a oportunizar, quando se coloca como campo de reflexão e formação teórica para o necessário protagonismo sócio político, no campo da saúde, em particular da saúde bucal.

 

            A par dessa formação geral, que permite e exige aprofundamentos, é necessário, de início, contextualizar essa problemática na compreensão de que a prática odontológica em sua totalidade e em suas diferentes formas de expressão, como de profissão, como componente da política de saúde, como parte integrante do setor produtivo, como campo do saber médico etc, não se produz no vazio, mas em sociedades concretas, com modos de produção dominantes e concretos, legitimados por modelos sócio/econômicos/políticos também concretos. Além disso, é preciso ter em conta que a atual prática não é como é porque assim, fatalisticamente, está determinado que seja. Ela assim é porque, desta forma, responde às necessidades objetivas de manutenção e reprodução do modelo sócio/ econômico/político dominante.

 

            É desta forma que se reduzem os espaços para que, em uma difícil ação contra hegemônica, se logre a implantação de modelos de práticas médicas diferenciados e mais coerentes  às reais demandas sociais.

 

            Alem disso é preciso ainda se considerar que à estes condicionantes, para compreensão da realidade, somam-se os que explicam como nossa prática profissional se articula e é determinada por essa estrutura social, a saber: pelas exigências do modo de produção dominante; pela relação de forças que se estabelecem pela dinâmica social; pelas intervenções do Estado e pela conformação interna da própria ciência médica.

 

            Assim nos alertamos para que as tentativas de comparar o desenvolvimento de nossa prática com situações de outras sociedades só pode ser tomada como meras referências, que pouco ajudam a compreender a nossa situação em particular. Não somos mais nem menos, somos apenas diferentes em nossas maneiras de atender às necessidades de nossas sociedades.

 

            Outro aspecto que precisa ser levantado como condição para se alcançar o conhecimento de nossa realidade é a de considerar que o processo histórico de desenvolvimento de nossa formação social, expresso em sua estrutura, também é marcado por suas conjunturas, ou seja, períodos temporais de tempos presentes, determinados tanto, por eventos sócio políticos eventuais, como pela dinâmica de situações determinadas pelo contexto de mundialização e globalização da política e da economia.

 

            Nessa perspectiva precisamos estudar e compreender as razões que nos levaram a mais uma situação de crise expressa no campo econômico, político, social e ético que vive o país. Tal condição não pode ter outro efeito senão o de profunda conseqüência para nossas condições de vida, portanto de saúde, na medida em assumimos e trabalhamos com o conceito de que saúde nada mais é que qualidade de vida, é a  expressão das contradições que as mulheres e os homens vivenciam no experienciar do seu próprio viver em sociedade, ou seja, uma condição que sempre, mas de forma qualitativamente diferenciada, estará presente, em função do grau de justiça e equidade alcançado pela sociedade.

 

            Nesse contexto os desafios que se apresentam a todos nós para enfrentar tal situação são enormes porque nesse momento da realidade se fragiliza o tecido social, com reflexos  no “ânimo” das pessoas, que empobrecidas em suas condições de sobrevivência, tornam-se suscetíveis ao convencimento ideológico que volta-se para a quebra nas crenças na cidadania, na quebra da vontade  de participação, na produção da descrença na possibilidade de mudanças.

 

            È desta forma que no cotidiano, por meio da ação de aparelhos do estado procuram nos convencer no mínimo como possível, na espera como o necessário e natural, na não gratuidade como mecanismo para se buscar a equidade , na racionalidade contábil e no equilíbrio fiscal como determinante dos limites sociais, o que se traduz no corte de verbas e redução dos quadros funcionais dos serviços públicos, na privatização do patrimônio público como mecanismo de desqualificação dos serviços e transferência de capital para atender interessas privados, enfim na resolução por reflexo, como substituto da conquista e da luta.

 

            Frente a tudo isso resta a pergunta impossível de calar: E nós com isso?

 

            A resposta é uma só, reagir é preciso, No organizar é preciso. Nos preparar para esse tipo de protagonismo é fundamental. Vencer a alienação e a crença de que tudo isso é natural. Superar a inércia mediante novas estratégias de organização se impõem. Proteger-nos dos mecanismos de cooptação que esse tipo de poder econômico-político, exerce levando-nos a participar e aderir da cultura do “salve-se quem puder” e de que a lógica a dominar nosso comportamento seja a de “levar vantagem em tudo” ou “buscar sempre ser amigo do rei, empurrando-nos para a “normose”- patologia do comportamento – considerada a doença mais prevalente da sociedade moderna.

 

            Estes são os desafios ao papel e a construção do Nosso Instituto, de antemão reconhecidos. A terefa é imensa, mas como já afirmamos, não impossível. Com perseverança e consciência da responsabilidade que recai aos que não hesitam nos construiremos e agiremos.

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