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Um Tema Para Reflexão

Organizar Para Responder

 

       No tempo em que hoje o que tratamos por Saúde Bucal Coletiva chamava-se de Odontologia Social ou Odontologia de Saúde Pública, lá pela década dos anos 50, colocava-se como um grande tema de discussão a forma como a profissão odontológica deveria se organizar para responder a função primária que havia conquistado ao deter o monopólio desse tipo de exercício profissional, qual seja a de responder às necessidades da sociedade no que respeita a sua área de ação – a saúde bucal.

       Surgia daí a preocupação com três grandes questões que, no entendimento que se estabelecia, a época, deveriam lhe garantir esta legitimidade no contexto em que se desenvolvia, a saber:

 

       - a de tornar-se uma área fundamentada pelo conhecimento científico, tomado no sentido de que seus procedimentos tivessem respaldos nos resultados da ciência;

 

        - a de que a atitude preventiva fosse incorporada ao agir e aos métodos de intervenção da prática que se estabelecia marcada, ao seu início, por procedimentos de cura, e

           - a de que os membros integrantes dessa profissão ganhassem consciência da necessidade de trabalhar no sentido de garantir a unidade grupal, ou seja, de construir mecanismos, sentimentos, valores e organização que, de uma parte, lhes garantisse poder de fala e respeito público acerca dos princípios que defendia e, de outra, lhe garantisse condições favoráveis para a defesa de seus direitos como trabalhadores, ainda que, nessa época, não assumissem, essa condição, na exata dimensão social e política, que hoje se considera como elemento estruturante dessa categoria sociológica.

 

            O testemunho que esse conjunto de preocupações era verdadeiro foi muito bem retratado, ainda nos idos de 1959 por uma das maiores autoridades mundiais no campo da saúde em especial da Odontologia, o Médico e Dentista, então Chefe da Unidade de Saúde Dental da Organização Mundial da Saúde Dr. Mário M. Chaves, que, em um, ainda atualíssimo, trabalho apresentado no Congresso Internacional Odontológico Argentino- Uruguaio, realizado em Buenos Aires em novembro desse ano e, posteriormente, em abril de 1960, públicado no Boletim da Oficina Sanitária Panamericana, VI- XLVIII, p. 303-315, tratou o assunto sob o título “Necessidade de uma Consciência Sanitária e Preventiva no Profissional”.

 

            Nesse artigo o Dr. Mário destacou os três setores de atuação e responsabilidade odontológica de nossa profissão:

 

            - para com o paciente;

            - para com o odontológo e

            - para com a coletividade.

 

            A par disso identificava as três instituições que considerava básicas  à essas áreas de responsabilidade. Em relação a isso dizia ele:

 

            - “As faculdades, cujo objeto é preparar seus estudantes afim de que prestem um melhor serviço ao paciente;

 

            - os serviços , cuja finalidade é atender as necessidades da coletividade e , por fim,

 

            - as associações, responsáveis pelo auto-governo e pelo controle interno da profissão.”

 

            Na seqüência faz uma análise sobre, a então, situação das três instituições e suas relações mútuas.

 

            Evidentemente que aqui não descreveremos a profunda reflexão apresentada, mas temos a convicção que, hoje, caberia procedermos todos nós uma analise sobre esse tema, da forma tão cientifica como ele fez, atualizando essa análise à luz do atual momento de nossa sociedade. Enquanto tal não se viabiliza - o que se coloca como uma tarefa, a ser pautada para uma agenda de responsabilidade – sugerimos a todos que leiam e reflitam sobre esse documento.

 

            Como já afirmamos considerações são feitas em relação à instituição que considera “chave” – a Instituição Associação Odontológica e às faculdades e aos serviços indicando aspectos que configuram suas atuações em relação às responsabilidades que idealmente lhes cabem, mas após isso nos oferece uma interessante questão: pergunta-nos como atuam em conjunto: em cooperação  ou em conflito? Ele mesmo responde:

 

            “...em cooperação, muitas vezes e em muitos países,  em conflito, algumas vezes”.

 

            A partir de considerar essa uma situação “anômala” que deve ser corrigida concentra sua atenção em apresentar o que identifica como as quatro áreas de conflitos observadas na prática dessas instituições, apresentando exemplos de como se configuram esses desentendimentos, caracterizando-os nas respectivas áreas de inter-relação:

,

            - Os conflitos inter-associativos;

            - Conflito entre faculdades e associações;

            - Conflito entre serviços e faculdades e

            - Conflitos entre serviços e associações.

           

            O texto ainda se ocupa de levantar algumas interpretações sobre as causas dessa desintegração. Nesse sentido:

 

            - Traça um paralelo entre a evolução profissional e a evolução social da Odontologia, destacando o quanto os avanços profissionais se estenderam aos benefícios sociais que tem alcançado para a sociedade em sua totalidade e segmentos e,

 

            - Aborda o conflito ético em que se debate a Odontologia, destacando o que denomina de “conflito ético primário” que decorre das dificuldades dos profissionais conciliarem seus interesses pessoais e individuais com suas obrigações para com a sociedade.

 

            Em uma penúltima parte de suas considerações o Dr. Mário Chaves analisa alguns dos dilemas com os quais convive nossa profissão.

 

            Nesse aspecto trabalha:

 

                 - a questão do monopólio profissional que se expressa pela necessidade de delegação de tarefas e emprego de pessoal auxiliar,

 

                 - na questão da busca de produtividade no exercício da clinica particular e nos serviços públicos decorrentes da formas de produção e estratégias científicas de intervenção  no processo saúde/doença que vem sendo propostas e,

          - no convívio com novas formas de organização da prestação de serviço com seus reflexos nas relações econômicas de remuneração e vínculos trabalhistas, entre outros.

 

            Finalmente dedica o autor a ultima parte de seu artigo para  levantar possibilidades referentes a o que denomina de “Ação conjunta para ação dos conflitos e dilemas” de nossa profissão.

 

            Assim, no momento em que formalizamos a criação do Instituto Flávio Luce torna-se necessário e conveniente, para evitar interpretações equivocadas sobre essa iniciativa e dar margem a que se acrescentem mais ingredientes aos conflitos que na atualidade enfrentamos na organização de nossa categoria profissional, dificultando o cumprimento dos seus setores de atuação e responsabilidade odontológica de nossa profissão, se forneça o máximo de elementos possíveis para a exata compreensão de vários aspectos que determinaram sua criação.

 

            Neste sentido, na seqüência deste site você encontrará elementos que lhe permitirão formular uma completa compreensão sobre o Instituto que ora se apresenta no cenário da odontologia gaúcha.

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