POR FERNANDO MOLINOS PIRES FILHO
Colegas
Penso que dentre as incertezas que tem acompanhado o processo de organização do nosso EGATESPO a começar pela expressa na consulta interna inicial que se fez se haveria disposição e colaboração para sua inclusão e realização, integrando a programação de trabalho do Instituto Flavio Luce, foi superada.
As manifestações de concordância e apoio a idéia se concretizaram em êxitos para a realização de discussões iniciais, criação de uma rede de comunicação que tem agregados companheiros em torno da idéia e permitido a realização de nossas primeiras reuniões.
Tudo isso, estimulado pela perspectiva da realização do XXIII ENATESPO, o que deu mais significado a necessidade e importância de, em nível nacional, se realizarem eventos locais, como o nosso, que têm como uma de suas principais funções aportar a esse grande encontro nacional às conclusões que nesses, de preferência estaduais, se construírem, enriquecendo assim a qualidade das análises e encaminhamentos que nele deverão ser produzidas.
Este inicio de trabalho permitiu e, como não poderia deixar de ser, nos levou a necessidade de realizar uma avaliação de viabilidade em sua execução, ou seja, de elencar certezas e incertezas sobre o nosso verdadeiro potencial para levar a frente a responsabilidade, o sentimento de conveniência e desejo de o realizar, em sua V edição em nosso Estado.
A certeza de que precisávamos enfrentar esse desafio se acentuou, de uma parte, na consciência das enormes dificuldades que vem se impondo a concretização e avanço do projeto de saúde coletiva que defendemos e, de outra na necessidade de fortalecermos o protagonismo da categoria para enfrentar os ataques que sofre o SUS, nesse momento conjuntural de avanço das políticas neoliberais, que se traduzem em agravamento as condições de vida e de saúde da população brasileira.
As incertezas se expressaram de diferentes formas e carecem, muitas delas, ainda hoje, de um dimensionamento mais preciso. De qualquer maneira é com base nelas que precisamos tomar decisões quanto a efetiva realização do Evento, sobretudo neste particular momento, em que enfrentamos uma pandemia, que paralisa e agudiza, no mundo e em nossa sociedade, as condições de realização da vida em todas suas dimensões.
Mas, é preciso que se diga que, mesmo antes dessa situação de crise, à medida em que avançávamos no processo de definição do projeto da atividade, o quadro de dificuldades e restrições foram se tornando mais claros, obrigando a redimensionamentos e redesenho de suas formas de organização e desenvolvimento.
A par das conversações e troca entre os membros do grupo que se articulou em torno da iniciativa, criou-se um fórum de deliberação formado por todos aqueles que vem se dispondo a participar de reuniões de organização que passaram a realizar-se com vistas a elaboração do Projeto do evento e indicar as medidas necessárias a sua viabilização. Até o final de 2019, realizaram-se três dessas reuniões, sendo que a ultima em Santa Maria, cidade que aceitou sediar a realização do Encontro.
Após cada um desses momentos formalizava-se um Relatório cuja divulgação vem se dando por meio do Blog do Instituto , abrigado em sua pagina na Internet – www.institutoflavioluce.odo.br - como forma de ampliar a divulgação do esforço que vem sendo feito para dar conta da tarefa a que nos propomos realizar.
No intervalo entre essas reuniões vem sendo tomadas algumas medidas e tentado possibilidades o que alimenta a discussão que se faz nas que se seguem. O período de férias impôs redução no rítmo dos trabalhos tanto que o Relatório da ultima reunião ainda encontra-se pendente de apreciação em nova reunião, como de costume.
De qualquer forma é possível indicar alguns elementos desse quadro de dificuldades e como tem influído na configuração do evento, até este momento:
- Persiste em nosso cenário um quadro de grande desarticulação entre os colegas que atuam no campo da saúde coletiva, assim como a ausência de protagonismos para envolvimento nas questões políticas que cercam a atuação dos serviços, assim como a fraca participação em instâncias e eventos onde se organiza o controle social;
- Vive-se um desfavorável momento econômico que afeta as instituições e a possibilidade de apoio ao custeio do Evento que minimiza sua dimensão e duração;
- Persiste uma tendência que poderia se chamar de eventocentrica, ou seja, congressos e encontros, se valorizam, somente, a partir da realização nas capitais e grandes centros. Os que se regionalizam perdem importância e significação, não atraindo participantes. Em nosso caso, ao contrário, há convicção da conveniência de descentralização da realização do Evento para uma localidade do interior do Estado que se caracterize como um Centro formador em odontologia e geograficamente facilite o deslocamento de outros pontos, para favorecer o deslocamento de um maior número de pessoas;
- O grau de empobrecimento dos trabalhadores em serviços públicos de saúde e a falta de apoio financeiro de parte das instituições para comparecimento aos eventos formativos, por vezes não facilitando, nem mesmo a decretação de ponto facultativo para o comparecimento a essas atividades;
- A cobrança de inscrições distantes da capacidade de pagamento dos participantes, ignorando as distinções entre profissionais, estudantes e mesmo entre os componentes de uma mesma categoria de trabalhadores;
- O sentimento de pouco retorno profissional proporcionado pelos eventos que em suas temáticas e modos operandis não constroem um clima participativo, transformando os participantes em meros ouvintes de paineis, mesas e conferências;
- A prevalência das ações de formação teórica em detrimento da abordagem de questões e problemas próximos a realidade da prática que os participantes desenvolvem em seu cotidiano de trabalho;
- A ausência de construção de atividades preparatórias a abordagem da temática a ser trabalhada de modo a municiar e apontar a problemática que se julga significativa para estimular debates e auxiliar na preparação dos participantes para fazer escolhas, sobretudo no caso de oportunidades de escolha de grupos de trabalho e discussão temáticas.
Certamente esses aspectos levantados não cobrem o leque de questões e problemas que se tem nesse processo de organização que tem-se considerado no desenho do EGATESPO, mas no momento como incerteza colocam-se as dificuldades que nos impõem o contexto da crise expresso na pandemia do coronavirus que a humanidade inteira vivencia.
De forma, muito particular, e sem desconsiderar o significado social, econômico, político e mesmo de ameaça a própria vida que recai sobre o mundo, para os fins da “pequena” questão que estamos abordando, refere-se a incerteza que ela nos impõe para definição da realização da data do evento, que como a experiência nos ensina é fundamental para viabilizar seu acontecer.
Uma melhor compreensão desses aspectos que levantamos cremos pode ser melhor aprendidas na leitura dos relatórios das reuniões que realizamos que, como anunciamos encontram-se a disposição de todos no Blog de nosso Instituto.
Todavia, ainda em relação a esse ultimo ponto das dificuldades para programação do evento – sua data de realização - cabe apontar que o nosso referencial para sua fixação encontra-se no significado que atribuímos a contribuição que pode aportar para o ENATESPO. Em função disso estendemos de fixá-la algum tempo antes da que se previa para esse evento nacional.
Mas, também o ENATESPO enfrenta o mesmo problema. Qual a data de sua realização? Nas discussões e análises de melhor possibilidade chegou a se configurar uma data, mas frente a crise o assunto voltou a ser, com toda razão e necessidade, a ser discutido. Assim, do ponto de vista absolutamente pessoal, aproveito para expor meu entendimento, que leva em conta a compreensão que, em questões futuras de calendário, tudo é incertezas. Pelo que se tem ouvido, cogita-se , inclusive de adiar o processo eleitoral para prefeitos e vereadores em nosso pais,previsto para se realizar em outubro desse ano, o que dá a dimensão da imprevisibilidade para fixação de datas. Na circuntância, penso que só existe duas opções: esperar para analisar o desdobramento da crise e, em outro momento, voltar a discussão, ou anunciar que está suspensa a realização do evento neste ano e, ao inicio de 2021 voltar a discutir outra data, com maior segurança do cenário que estará se vivendo.
Como já referi, particularmente, preferiria esta ultima opção, porem com uma recomendação a militância nacional. Refere-se ela que sob qualquer hipótese é fundamental que encontro estaduais ou regionais de realizem. O protagonismo político que defendemos e que precisa ser assumido pelo coletivo dos que atuam na área da saúde coletiva, só de torna efetivo e representativo, do ponto de vista de uma intervenção nacional, se for construído pela base de um movimento, que também precisa ser organizado. Sem duvida um enorme desafio a todos nós.
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