Por Fernando Molinos Pires Filho
Colegas
Este é um texto contribuição, decorrente de contato telefônico mantido com a Presidente da ABRASBUCO, Professora Dora, em que trocamos entendimentos sobre a incerteza em relação a definição da data de realização do ENATESPO, em função do momento de crise que vivenciamos.
Solicitava ela, nessa ocasião, nossa posição, em um tipo de “ouvir” que estava realizando entre militantes, já envolvidos com o processo de construção do evento, a maioria participantes de um grupo para esse fim criado no whats. Uma conversa que nos estimulou a produção desse documento em que exponho entendimentos sobre o problema, no propósito de ajuda, compartilhando entendimentos pessoais com todos que estão envolvidos na empreitada de realizar esse evento nacional, assim como os de nível estadual, que hoje se defrontam com o mesmo problema, até mesmo porque se realizam em preparação a participação no de nivel nacional, ficando, portanto, dependentes dessa definição para marcação dos seus.
Assim, com o propósito de pensar a tomada de decisão sobre a questão, tentarei, mais que emitir uma opinião, fazer algumas considerações que, em nosso entender, podem, minimamente, sustentar, com argumentos, a decisão que precisa ser tomada em relação ao problema. Aproveitarei a oportunidade, também, para compartilhar outras aspectos que dizem respeito a organização desses eventos que estamos organizando.
ESPECIFICAMENTE QUANTO A QUESTÃO DA DATA:
Entendo que a fixação de uma data, como integrante do leque de aspectos que envolvem a organização e realização de um evento, por inúmeras razões, não é coisa de menor importância. Trata-se de um elemento a mais do imbricado cenário de condições, possibilidades e conveniências que cercam as tomadas de decisões que precisam ser consideradas de forma coordenadas, em razão de suas interdependências, na formatação dos encontros, determinando as possibilidade de sucesso e qualidade da empreitada. Em razão disso a data de sua realização não pode ser definida sem que se façam considerações, também de várias ordens, que fundamentem as alternativas que a princípio vão sendo levantadas.
No caso, em particular da realização do ENATESPO esse processo foi vivenciado, e a medida em que se desenhava o evento datas foram pensadas e consideradas, entre umas e outras, em suas vantagens e desvantagens, amadurecidas na confirmação de outras condições, sobretudo as relacionadas ao equacionamento de disponibilidade de apoios para sustentação das demandas e necessidades de recursos financeiros e materiais fundamentais a sua efetivação. Isso permite dizer que a fixação de data, em condições normais, é uma variável ou componente dependente. A escolha não se constitui em ingrediente organizativo independente que se defina em função de condições isoladas e particulares.
Nesse contexto, foi na evolução de conquistas e êxito na criação de viabilidade para a realização do evento que as alternativas para determinação de uma data foram sendo apresentadas. Mas, também, foram sendo descartadas ou validadas na medida em que argumentos fortes se impuseram no afunilamento da decisão que, a certa altura do planejamento, precisa ser definitivamente acordada, como o foi, ainda que por pouco tempo, como estamos a ver.
Foi o que vivenciamos, até agora quando a pandemia de coronavirus nos atingiu, de forma tal em sua significação, que a questão voltou a ser considerada, agora em um cenário de incertezas que questiona sobre a necessidade de adiamentos, o que implica a continuidade das discussões para fixação de uma nova data, ou no anuncio imediato da suspensão da realização do evento, até segunda ordem, dependente da evolução da crise. Ou seja nesta alternativa se posterga a decisão para um momento em que se disponha de uma leitura mais precisa da conjuntura, decorrente dos efeitos da crise em que estamos mergulhados, que sem dúvidas é das mais sérias que já vivenciamos em nossa história.
Assim cremos não dá para, simplesmente, ignorar que o mundo, por necessidade óbvia para conter a propagação do vírus, está parado. Vivencia-se um contexto mundial de demarcação e adiamento de atividades e funcionamento em todos os campos da atividade humana. Como ignorar ou imaginar que esta situação não teria reflexos em relação ao nosso empreendimento. Impossível.
Assim, uma decisão imediata torna-se necessária e urgente, na medida em que, sustentar esse debate sem conhecimento da evolução e consequências desse fenômeno, do desgaste social, econômico e político a que toda a sociedade está submetida, constitui-se em verdadeiro contra senso. Isto sem falar no aumento do nível de desgaste psiquico dos indivíduos, agregando mais dúvidas a reorganização de seus planos pessoais e de seu ânimos em levar a frente programações feitas, ainda na ausência dessa crise. Entendemos que quanto mais cresce incertezas, mais prejuízos se colocam para o futuro. Para o nosso futuro. Será preciso perguntar se a incerteza quanto a data de realização do Enatespo foge disso e desse tipo de efeito?
Posta a questão dessa forma nos parece que uma decisão se impõe e com urgência para responder a dúvida que se estabeleceu, em um momento em que parecia tudo certo.
Parece assim, que só dispomos de duas alternativas, como já apontamos, uma decisão imediata ou a manutenção do processo de discussão sobre alterá-la, em meio a um cenário de imprecisões que desconhecemos, o que entendemos se constituirá em um exercício meramente especulativo.
Assim a decisão precisa ser considerada com base em uma sustentação argumentativa que permita o mais racionalmente possível se avaliar suas conveniências, evitando-se o rateio meramente opiniático que coloca mais problemas para a tomada de decisão e que pode nos conduzir a consultas decisórias tipo votação, baseadas em fatos isolados, incapazes de apreender a complexidade da conjuntura em sua totalidade.
Penso que alimentar a continuidade das discussões que vem ocorrendo para marcação de nova data para o evento é desgastante e nos tira do foco de ocupação na sua preparação. Além disso, deve se ter em conta, também, que a evolução da crise pode nos levar a necessidade futura de novas mudanças de datas, e nos envolver, novamente, nesse tipo de ocupação decisória, que tende a se repetir.
Dessa forma, baseado nessa imprevisibilidade de evolução do cenário de crise, o meio mais seguro para evitar essas questões é, baseado nessa incerteza, fazer uma comunicação pública, imediata de que o ENATESPO será realizado somente em 2021, em data a ser fixada em oportunidade que se tiver uma análise mais fundamentada da evolução e conseqüências da crise, o que permitirá que os nossos possíveis colaboradores estejam em condições de reavaliar suas condições de apoio e nossos colaboradores e conferencistas, ajustarem suas agendas sem que precisem, como agora, a cada alteração de datas ter de tentar adequá-las as nossas demandas, a medida em que forem se tornando necessárias.
Outra preocupação a se considerar é que, aumentar a probabilidade de ter de impor novas alterações pode implicar em desapego e desaceleramento no trabalho de motivação que vem sendo feito para realização de um grande evento com participação expressiva de colegas que atuam na área e que precisam de tempo para se programarem, providenciando licenças, condições de deslocamentos, hospedagem e despesas financeiras correlatas. Há também que se considerar que a indecisão sobre a data se reflete na realização dos eventos preparatórios regionais, que antecipam o evento nacional, o que, pelo que se tem conhecimento, também vinham enfrentando dificuldades em suas possibilidades de realização e fixação de datas, nesse cenário de indecisão sobre a data do nacional e da crise em sua imprevisibilidade de desdobramentos.
Precisamos, sem duvidas evitar mais incertezas, mais desistimulos, mais perda de tempo. Precisamos, construir tranquilidade para utilizar na preparação final do evento. Precisamos de uma decisão imediata pelo obvio das necessidades apontadas. Precisamos aproveitar o tempo que ganharmos em eventual transferência do evento para 2011, para repensarmos questões que se apresentam a organização dos eventos. Nesse sentido, me permito, ainda tecer algumas observações que talvez, aparentemente fujam a demanda que nos foi posta. Passo, pois, a considerações sobre essas questões:
QUANTO A ORGANIZAÇÃO DE NOSSOS EVENTOS
Falo em “nossos” referindo-me aos eventos que se realizam no espaço e campo da saúde, em particular nos espaços referentes a saúde bucal coletiva.
A realização desses eventos não devem se justificar por mera necessidade de cultuar tradição de realizações.
A conveniência de nos empenharmos em realizar nossos encontros precisam encontrar justificativas na clareza que tenhamos sobre a necessidade, finalidade ou os objetivos que julgamos necessários alcançar com suas realizações, voltados esses conhecimentos para qualificar nosso trabalho e contribuir para organização e qualificação de nosso protagonismo, como trabalhadores sociais que somos.
De outra parte sabemos que nosso campo de trabalho ao ocupar-se de saúde como qualidade de vida, mais que qualquer outro é dependente do contexto em que essa condição se configura, de forma que o nele intervir está profundamente dependente de nossas condições de entender como se conformam esses cenários ao longo da história.
No caso em particular dos ENATESPOS essa preocupação sempre ganhou centralidade. Os constituímos como espaços de reflexão e análise das conjunturas em que se realizam. Nesse sentido, não há duvidas, que sua organização temática foi sendo estabelecida a partir de compreensão que se buscava aprofundar sobre a conjuntura existe a oportunidade de suas realizações. No caso presente, no cenário anteriormente a crise epidêmica social, ecônomica e política por que estamos, agora, passando e que certamente vivenciaremos durante um tempo prolongado de meses e, possívelmente, em seus desdobramento, em anos.
Nessa circunstância, não é necessário argumentar para compreender que esse novo cenário que estamos vivendo e, em continuidade, viveremos deve oportunizar, também, a necessidade de atenção a novos fatos e condições que precisarão ser considerados no momento futuro em que realizaremos o nosso ENATESPO, influindo assim em ajustes a sua formatação, com priorização de objetivos e focos para fazer o melhor e mais adequado enfrentamento ao cenário que se transforma em conseqüência da crise que já preocupa o mundo e as sociedades nacionais.
Outra questão a ser considerada para reavaliação e consideração do formato de nosso evento refere-se as novas necessidades e desafios que se apresentarão as condições de funcionamento do SUS nesse novo cenário que, como já se anuncia, será o de agravamento das condições para seu adequado funcionamento, com seus desdobramentos para os trabalhadores de saúde, embora no presente venha sendo avaliado de forma completamente diferente do que costuma ser considerado.
Nesse contexto de possibilidades volta-se, como recurso de intervenção, a necessidade de se refletir sobre a organização de seus trabalhadores, qualificação de suas identidades profissionais e sua capacidade de protagonismo, questões que, ao nosso ver, tem sido secundarizadas nas pautas de nossos eventos, que tem privilegiado a contribuição a uma necessária formação teórica de conhecimentos técnicos da área, mas que não tem contribuído para a questão da necessidade de incluir em seus papeis sociais a capacitação para o tão necessário protagonismo político das categorias profissionais da área.
Cabe ainda na perspectiva de ganho de consciência, que as conseqüências da crise poderão colocar em evidencia, para uma reflexão sobre a organização de nossos eventos, diz respeito a atenção que precisa ser dada a um sentimento que tem sido expresso pelos trabalhadores de saúde, de forma preocupante. Trata-se da crítica a suas formatações pouco propicias a participação, o que os estaria colocando na condição passiva de mero assistentes, fato que se reflete em desistímulo a participação nos eventos, ainda que admitam que tais conhecimentos não invalidam a possibilidade de ganhos de conhecimentos teóricos à suas bagagens profissionais,
Ouve-se, nessa linha, reclamos de que suas experiências de trabalho não tem sido valorizadas nas programações dos eventos, distanciando o trato das problemáticas de exercício que enfrentam, das oportunidade para trocas e discussões que apontem para questões pouco conhecidas, assim como para sua participação na definição de estratégias para enfrentá-las, no cotidiano de suas práticas nos serviços.
Finalmente, acreditamos que a opção pela realização do evento em 2021 nos daria um fôlego maior, cujos resultados precisam, efetivamente, serem utilizados no balizamento e organização do evento nacional.
É o que pensamos, espero desta forma ter contribuído para um processo de reflexão que as intervenções telegráficas que os recurso internéticos nos impõem, não tem nos permitido fazer de forma mais argumentativa.
Em 24.03.2020
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